Lagoa da Pampulha: uso recreativo da água pode ser liberado ainda em 2025

Após décadas de poluição e de investimentos pesados em despoluição, a Lagoa da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco, se aproxima de uma nova fase. O espelho d’água, antes símbolo de degradação ambiental, já apresenta em vários pontos índices de qualidade classificados entre “bom” e “ótimo”, resultado de ações contínuas de recuperação iniciadas em 2016.

Esse avanço abre espaço para um projeto aguardado há décadas: a retomada de atividades recreativas, esportivas e turísticas na represa. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) já estuda publicar, ainda em 2025, um decreto que regulamentará práticas como navegação, passeios de barco e esportes náuticos.

O caminho para a despoluição total até 2028

Segundo Ana Paula Fernandes, diretora de Manutenção de Bacias da Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura (Smobi), a melhora é fruto de um trabalho constante: retirada diária de até 10 toneladas de resíduos flutuantes, aplicação de biorremediadores para reduzir a matéria orgânica e desassoreamento.

A Copasa, por sua vez, assumiu em 2023 a responsabilidade legal de universalizar o esgotamento sanitário na bacia da Pampulha até 2028. Isso significa que todos os imóveis deverão estar ligados à rede de coleta, eliminando o lançamento irregular de esgoto, um dos maiores problemas da lagoa da Pampulha. “Com 100% de coleta, esperamos atingir padrões ótimos em toda a Pampulha”, reforça Fernandes.

Turismo, lazer e cultura

O prefeito Álvaro Damião (União Brasil) já anunciou a intenção de liberar passeios de barco e esportes aquáticos até o fim deste ano. Para tanto, um grupo multidisciplinar, envolvendo as secretarias de Obras, Meio Ambiente, Esportes, Turismo e Segurança, discute os critérios do decreto.

Para Janaina França Costa, gerente do Conjunto Moderno da Pampulha, a reabertura do lago é também um reencontro cultural: “É muito bonito poder enxergar o conjunto moderno a partir da água. O espelho d’água é um elemento articulador da paisagem cultural reconhecida pela Unesco”, afirmou.

Navegação foi proibida na década de 1960, quando a poluição tornou inviável qualquer atividade. Agora, a despoluição traz não só ganhos ambientais, mas também econômicos e sociais, com o fortalecimento da economia criativa, do turismo e de novos espaços de lazer para a população.

Um polo turístico em expansão

O potencial turístico já se confirma nos números: entre fevereiro e julho de 2025, mais de 1,2 milhão de pessoas visitaram a região da Pampulha, de acordo com o Sistema de Sensorização Turística da PBH. Essa tecnologia, que monitora de forma anônima o fluxo de visitantes, apontou picos de circulação em junho (238 mil pessoas) e julho (257 mil).

O sistema, implantado pela Belotur em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Sebrae, integra o programa Turismo Futuro Brasil, que aposta em inovação e inteligência de dados para gestão do setor. A previsão é de que novas ferramentas de interação, como QR codes e campanhas de marketing digital de proximidade, sejam implementadas na próxima etapa.

Investimentos contínuos e desafios remanescentes

Nos últimos 20 anos, a Copasa já destinou mais de R$ 760 milhões à despoluição da Pampulha, além dos R$ 15 milhões investidos somente em 2025. Do lado da Prefeitura, são aplicados anualmente cerca de R$ 25 milhões em manutenção, limpeza, tratamento da água e monitoramento.

Apesar do progresso, ainda há desafios pontuais, como o mau cheiro em áreas próximas à Praça Leajadinho e à Toca da Raposa. Segundo Fernandes, essas situações estão ligadas tanto a estruturas da Copasa em obras (com conclusão prevista até o fim de 2025) quanto a despejos irregulares de esgoto. A expectativa é de que a universalização do saneamento reduza significativamente esses impactos.

Um futuro de reconexão com a cidade

A transformação da Lagoa da Pampulha simboliza mais do que um projeto ambiental: representa uma oportunidade histórica de devolver à cidade um de seus principais patrimônios. A regulamentação prevista para 2025 abre caminho para esportes, lazer e turismo de qualidade, aliados à preservação cultural e ambiental.

Se as metas forem cumpridas, até 2028 Belo Horizonte terá um cartão-postal não apenas bonito, mas também vivo, integrado e sustentável, onde moradores e visitantes poderão se reconectar com um dos maiores símbolos da capital mineira.