Lagoa da Pampulha
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Em 16 anos, Água da Pampulha não teve melhora Significativa!

Em 16 anos, Água da Pampulha não teve melhora Significativa!

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A qualidade da água da Lagoa da Pampulha não teve melhora significativa nos últimos 16 anos. A conclusão é do Centro de Inovação e Tecnologia (CIT) Senai/Fiemg (antigo Cetec), que desde 2006 coleta amostras a cada três meses em 17 pontos da bacia hidrográfica da Pampulha para o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão que integra o Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) e responsável por acompanhar a qualidade dos cursos d’água no Estado.

De acordo com a química Zenilde Guimarães Viola, coordenadora técnica do CIT Senai/Fiemg, o monitoramento é feito em cinco pontos de afluentes diretos da lagoa, três pontos dentro do reservatório, um ponto a jusante da barragem e os demais em afluentes da bacia. “As análises feitas por nós permitem avaliar o grau de assoreamento da lagoa. E nos últimos 16 anos, desde que começamos a fazer esse trabalho, não houve melhora significativa da qualidade da água”, atesta.

Entre os 50 parâmetros analisados estão sólidos em suspensão e sedimentáveis; turbidez; aspectos relacionados ao processo de eutrofização, como quantidade de nitrato, clorofila, cianobactérias e cianotoxinas, nitrito, oxigênio dissolvido; aspectos ligados ao esgotamento sanitário, como a Escherichia coli; metais contaminantes, como arsênio, cádmio, mercúrio e chumbo, entre outros.

O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) determina faixas de classificação para medir a qualidade da água. De 2021 para 2022, o percentual das águas considerado de boa qualidade caiu de 13% para 6%, e o considerado muito ruim subiu de 6% para 12%. Mas de uma maneira geral,  o  percentual da qualidade média saltou de 24% para 44%. Os dados estão no “Boletim Qualidade da Água 2022 Minas Gerais Sub-Bacia do Ribeirão Pampulha”. 

“Muito ruim”

A característica “muito ruim” foi registrada por três estações localizadas no córrego Sarandi e na estação do córrego Olhos D’Água em sua foz, na lagoa da Pampulha. Os parâmetros que contribuíram para o Índice de Qualidade da Água (IQA) “muito ruim” foram o de oxigênio dissolvido (23%); bactéria Escherichia coli, que indica contaminação fecal na água (22%); turbidez e DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), ambos com 22%.

Dos 17 córregos onde são feitas as coletas para a análise da água, apenas um – córrego da avenida Tancredo Neves – não teve parâmetros que ultrapassaram os limites estabelecidos para a classe de enquadramento do curso d’água, no caso da Pampulha, classe 2. Todos os outros excederam em 100% ou mais os limites.

Recomendações

Como análise final, o boletim do Igam diz que, “entre as causas mais prováveis para os resultados, estão os lançamentos de esgotos domésticos de Belo Horizonte e Contagem, além de efluentes de indústrias químicas, alimentícias e têxteis”. E que, “para que a situação seja melhorada, é importante ampliar os serviços de coleta e tratamento de esgotos domésticos da sub-bacia, da mesma maneira que os efluentes industriais necessitam de tratamento específico antes de retornar aos corpos de água”.

Como sugestão, “recomenda-se fiscalização e repressão de lançamentos de efluentes irregulares e ações de educação ambiental na sub-bacia”. O Igam foi procurado para esclarecer qual o seu papel efetivo sobre a bacia hidrográfica, o que faz com os dados do IQA, além de emitir o relatório e, ainda, para esclarecer se ao longo de todos esses anos propôs algum tipo de ação conjunta com os atores envolvidos. Não houve retorno até o fechamento desta edição. 

Quem são os vilões da lagoa?

“O assoreamento de material sólido (areia, solo, erosão e material dos córregos para a lagoa) decorre da falta de mata ciliar e do desmatamento que vem ocorrendo nos afluentes da bacia da Pampulha. E a maior causa do assoreamento é o desmatamento, os dois grandes problemas do reservatório”, afirma a química Zenilde Viola. 

Segundo ela, desde o início das análises a lagoa também não apresentou variação significativa ou crítica em termos de poluição. “O que a lagoa recebe é o impacto do esgoto, lixo e efluentes industriais. Registramos oscilações em época de seca e chuva – na seca, a vazão diminui, e não há muita contribuição de drenagem fluvial. Na chuva, ocorre o contrário: piora o nível de esgotamento sanitário, e há o carreamento de material para a lagoa”, explica.

Questionada sobre quais seriam as ações capazes de conter o assoreamento e a  poluição da lagoa da Pampulha, Zenilde diz que a atuação deve ser em cima do problema, e não em sua remediação. “Primeiramente, deve-se ter um olhar mais direcionado para a bacia como um todo, não só para a lagoa. O problema não é localizado, a bacia hidrográfica representa a qualidade do que está na lagoa. E há muitas tecnologias disponíveis, como fitorremediação, barreiras biológicas”, explica.

Segundo Zenilde, educação ambiental é fundamental. “É preciso organizar as atividades antrópicas: a coleta e o tratamento de esgoto antes de chegarem aos córregos; frear a ocupação urbana desordenada, que gera o desmatamento e aumenta a impermeabilização do solo; voltar os córregos às suas condições originais, em vez de canalizá-los; cuidar de nascentes para melhorar a qualidade das águas; e conscientizar a população sobre não jogar lixo nas águas”. 

“Esta é uma visão não apenas como química, mas também como doutora em ecologia e manejo da vida silvestre. Todo esse cenário impacta diretamente a biodiversidade da lagoa, principalmente os organismos hidrobiológicos, como os plânctons, zoobentos (conjunto de animais de diferentes espécies que vivem no fundo de ecossistemas aquáticos, fitoplânctons), que são excelentes indicadores de qualidade da água e quase não existem mais na Pampulha”, acrescenta.

Via: https://www.otempo.com.br/mais/em-16-anos-agua-da-pampulha-nao-teve-melhora-significativa-1.2752153